Brasil tem mais de 18 milhões de pessoas com deficiência (PCDs), segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. É um contingente que representa quase 10% da população do país, portanto uma parcela relevante para o mercado imobiliário, e que tem demandas específicas que precisam ser olhadas com atenção e cuidado.
É notório que o País avançou na inclusão de PCDs, sobretudo após a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, em 2015. A lei determina, por exemplo, que certos empreendimentos reservem 3% de suas unidades para compradores PCDs, ou garantam que todas as unidades sejam adaptáveis às necessidades desse público. A Lei de Inclusão também criou linhas especiais de crédito para que pessoas com deficiência adaptem seus imóveis.
Para além dos avanços na legislação, a tecnologia também está evoluindo para facilitar a rotina de pessoas com alguma redução de mobilidade. Pensemos, por exemplo, na automatização, via comando de voz, de tarefas domésticas como fechar cortinas, acender luzes e ligar eletrodomésticos. Dispositivos como a Alexa, que até pouco tempo atrás pareciam futuristas, hoje estão relativamente bem disseminados.
A tecnologia também facilitou a jornada de consumo. Quem hoje deseja comprar ou alugar um imóvel comumente inicia sua busca pelos portais de classificados imobiliários, que oferecem descrições completas, fotos e até visitas virtuais. Recursos de realidade aumentada permitem que o possível comprador faça uma verdadeira imersão no imóvel desejado, projetando, inclusive, eventuais reformas. Esses portais reduzem a necessidade de número de visitas in loco e, portanto, o número de deslocamentos necessários durante a busca por uma nova moradia. Com isso, melhora-se a experiência de usuários que enfrentam desafios adicionais para se locomover pela cidade. E o processo de digitalização do mercado se aprofundou durante a pandemia.
A redução significativa da burocracia envolvida nos negócios imobiliários, com a possibilidade de validar documentos, aprovar crédito, contratar seguro e até assinar contratos de forma 100% virtual, remota, vem revolucionando a jornada dos consumidores com deficiência nos últimos anos, em especial, pessoas com mobilidade reduzida. Ainda é preciso evoluir, porém, em tecnologias que permitam a pessoas com deficiências visual, auditiva, intelectual ou psicossocial acessarem informações de interesse na internet de forma ampla e adaptada. Para além dos recursos virtuais, também é preciso pensar na acessibilidade quando a visita ao estande de venda se faz necessária.
Os projetos podem contemplar formas mais inclusivas de
demonstração do empreendimento: gravações de áudio para visitas narradas a um
apartamento decorado, intérpretes de libras no dia do lançamento ou mensagens
em braile descrevendo o empreendimento são algumas ferramentas já disponíveis
em museus que poderiam ser disponibilizadas.
Outra ideia de baixo custo e alto impacto é a utilização de painéis táteis para demonstrar a planta do imóvel ou amostras dos materiais que serão usados na fachada ou áreas comuns para melhor compreensão dos detalhes. Todos esses avanços impactam também na rotina dos corretores e profissionais com deficiência, que ainda sofrem com a má qualidade da infraestrutura urbana brasileira e com a ausência de espaços verdadeiramente inclusivos.
As empresas do setor devem, claro, apostar na contratação de PCDs, como parte de uma estratégia mais ampla de promoção da diversidade, mas isso não é o bastante. O investimento em tecnologia é uma estratégia igualmente necessária para garantir condições plenas de trabalho a esses profissionais. Há uma gama gigantesca de ações – das visitas virtuais à impressão de maquetes por impressoras 3D, da automação de processos internos à introdução de recursos específicos para PCDs nos aplicativos de venda – à disposição das imobiliárias para garantir a eficiência de todos os seus colaboradores.
O caminho passa por investir em tecnologia para garantir a inclusão das pessoas com deficiência, sejam profissionais da área ou consumidores. Mais do que isso, o mercado imobiliário precisa inovar, mantendo uma escuta ativa com esse público e, a partir de suas demandas, apostar em novas estratégias de inclusão.
Trata-se não apenas de um bom negócio, já que estamos
falando de um mercado potencial equivalente a um décimo da população
brasileira, como também de uma atitude ética, que transforma os valores da
igualdade e da diversidade em ação concreta.
Fonte: imóveis.estadao.com.br
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