Espaço influencer (com iluminação própria para fotos e
vídeos), área com refrigeração para receber compras de supermercado, tomadas
para carro elétrico e lazer na cobertura do prédio estão entre as apostas de
incorporadoras e construtoras para 2024 em meio a um cenário de juros altos.
Os desafios do setor serão herdados de 2023, que registrou
queda no volume de financiamento com recursos da poupança. Mas há boas
expectativas para o novo ano, como a inflação mais controlada, menos taxa de desemprego
e sequência de redução gradual da taxa de juros, o que pode melhorar as
condições de crédito imobiliário. Demanda é o que não falta.
O número de novos imóveis comercializados no Brasil aumento
22,2% no acumulado de janeiro a setembro de 2023 quando comparado ao mesmo
período no ano anterior, segundo dados do indicador Abrainc-Fipe.
O MCMV (Minha Casa, Minha Vida) foi um dos responsáveis
pelo o resultado, especialmente a partir do segundo semestre desde ano. Em
termos de lançamentos, o segundo registro crescimento de 46,6% no valor de
vendas.
De olho neste nicho, empresas ampliam suas apostas no
programa habitacional, inclusive com novas marcas, lançando imóveis que se
enquadram nas regras sem abrir mão das áreas de lazer.
A Vinx Construtora, especializada em incorporar projetos no
segmento econômico, comprou mais de R$ 500 milhões em terrenos para construir
empreendimentos dentro das faixas 2 e 3 do MCMV em bairros periféricos de São
Paulo. “Estamos dobrando o investimento no MCMV 2023 para 2024”, afirma o CEO,
Guilherme Yogolare.
Na Vila Tolstói, zona leste da capital paulistana, um
empreendimento com 536 unidades de até 39 m² terá mais de 20 itens de lazer,
incluindo quadras recreativas, espaço bar, salão de jogos, pet place e espaço
youtuber, pensando nos futuros moradores que produzem vídeos e fotos para as
redes sociais. A Vinx investiu R$ 30 mil na área de 35 m².
“Criamos um lugar com boa iluminação e ‘fundos instagramáveis’”,
dis Yogolare. “Focamos em uma parede com banco embutido e neon, um espelho de
corpo inteiro com LED e uma ring light com fundo fotográfico, além poltronas,
cadeiras de balanço e um espaço que pode ser utilizado como um trocador ou
cabine de fotos”.
Uma área dedicada aos os influencers também será encontrada
em projetos da Plano&Plano, forte no segmento econômico. “É um espaço fácil
de encaixar em qualquer empreendimento e está com excelente aceitação pela
grande usabilidade”, diz Reneé Garófalo Silveira, diretora de incorporação da
construtora.
A You, Inc. vai investir até 35% do seu orçamento de 2024
no Minha Casa, Minha Vida e lançar a marca Hom, Inc. A iniciativa ocorre após o
teto do programa subir para R$ 350 mil.
Os apartamentos serão de até um dormitório, com áreas
comuns voltadas ao bem-estar, como espaço para a prática de meditação e yoga.
Focados em regiões com boa malha de transporte público, os empreendimentos não
terão vagas de garagem.
“É como se o programa tivesse chegado até nós ao subir o
limite. Não podemos ficar de fora”, afirma Tatiana Muszkat, CMO da
incorporadora. “Estamos cautelosamente otimistas, com a estratégia de ficar
entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão de VGV (Valor Geral de Vendas)”, diz a
executiva.
Desde 2018, A Trisul não atuava no segmento econômico, mas,
assim que o aumento do subsídio do MCMV foi anunciado pelo o governo federal, a
empresa se apressou em lançar o Elev Alto do Ipiranga, a 400 metros da estação
de metrô Santos-Imigrantes (Linha Verde).
Com unidades de dois dormitórios, com ou sem suíte, todas
com varanda, a área comum tem salão de beleza, oficina com ferramentas e pet
care.
“A Trisul passou a contar com 25% do seu banco de terrenos
enquadrado no programa, com boas condições de lançar nos próximos anos”, diz
Lucas Araújo, Diretor de Marketing e Inteligência de Mercado da Trisul.
Nos empreendimentos de médio e alto padrão, localização
segue sendo a palavra chave de um bom negócio. Mas há novos atrativos, que tentam
resolver problemas modernos.
Por exemplo, a briga nos condomínios sobre a regra deixar
ou não entregadores subirem ao apartamento pode estar com os dias contados. As
incorporadoras estão incluindo em seus projetos espaços delivery, com
refrigeração para as mercadorias.
A MPD Engenharia instalou um elevador exclusivo para
delivery em dois prédios: o Hera Perdizes, na zona oeste de São Paulo, e o
Level em Alphaville. O equipamento atende a todos os andares de apartamentos.
As unidades custam a partir de R$ 15 mil e R$ 13 mil o m², respectivamente.
Segundo a construtora, o profissional faz a entrega para
portaria do condomínio e, logo em seguida, dependendo da configuração determinada
pelos os moradores, a portaria ou a zeladoria coloca a encomenda dentro do
elevador indicando o andar.
A cobertura dos prédios também não é mais a mesma. Especialmente
nas grandes e adensadas cidades. Sem muitos terrenos disponíveis para comprar e
com o metro quadrado mais valorizado a cada ano, as empresas estão levando
itens de lazer para o topo dos empreendimentos.
Próximo à Avenida Paulista, símbolo de São Paulo, a Vinx terá
um empreendimento com piscina e cinema ao ar livre no rooftop. Serão 188
estúdios de 24 m², a partir de R$ 8.000.
“Não importa mais se é segmento econômico ou de altíssimo
padrão, as pessoas querem comprar desejo e sonho. Cabe ao incorporador adaptar
os projetos para que o cliente consiga financiar seu imóvel de alto valor
agregado”, afirma Yogolare.
O recém lançamento do residencial multifamily OLLIE 117, a
oito minutos da avenida Faria Lima, terá um terraço de festas na cobertura com
lareira “ecológica”, abastecida por gás natural ou GLP (gás liquefeito de petróleo).
O edifício de alto padrão da SKR terá estúdios de 26 m² a
35 m² a apartamentos de 119 m² com três suítes. O valor do metro quadrado não
foi informado.
O boom de lançamentos de estúdios e de apartamentos compactos
tende a seguir representando boa fatia das transações imobiliárias de 2024.
Ricardo Zilberman, diretor da Magik, aposta que a metragem
de 25 m² a 37 m² será forte tendência dos empreendimentos que se enquadram no
Minha Casa, Minha Vida e que a queda dos juros vai aumentar a demanda por
imóveis de 70 m² a 120 m² de médio padrão.
“Entendemos que em 2024 os imóveis menores terão muita
procura tanto pelos os investidores como pelos os veranistas, além dos imóveis
comerciais bem localizados”, afirma a gerente de projetos da Mozak, Clarissa
Grinstein.
A venda de imóveis de até 45 m² avançou 80% na cidade de
São Paulo, nos últimos três anos. Segundo o levantamento da Secovi-SP, de
janeiro a outubro deste ano foram comercializados 47.786 unidades com essa
metragem, enquanto no mesmo período de 2020 foram vendidas 26.700.
Grande parte dos compradores são de investidores, segundo a
Vitacon, especializadas em apartamento compactos e áreas comuns como extensão
de moradia. A incorporadora projeta seus empreendimentos com uma variedade de
áreas comuns para lazer e serviços administrados pela Housi.
No projeto da avenida Brigadeiro Luís Antônio, entre os
novos espaços de lazer estarão uma piscina para festas privadas, área externa
para prática de crossfit e pista para drone. Serão três torres de 27 andares
conectadas por duas passarelas. O projeto ocupa cerca de um quarteirão e prevê
apartamentos de um e dois dormitórios de até 52 m² além de sete lojas no térreo.
“Devemos aumentar em 50% a produção em 2024. Com a taxa de
financiamento caindo, o cliente pode comprar mais ou menos um metro quadrado
mais caro. Produzir compactos inteligentes é confortável”, afirma o CEO Ariel
Frankel.
O setor de locação chega em 2024 com otimismo cauteloso. “Vamos
entrar o ano ainda com os juros altos, o que impacta diretamente a compra. Se o
cliente não consegue comprar ou adia, opta por uma locação”, afirma Cyro
Naufel, diretor da Lopes.
Fonte:
www1.folha.uol.com.br
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